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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Desejo mudar radicalmente de vida, como faço? :: Silvia Malamud ::



- Abandono minha família, marido, emprego, filhos, amigos? Estou infeliz e não sei por onde começar. Por onde começar a mudar?
- Estou cheio de tudo e absolutamente nada mais faz sentido para mim, aliás, tudo perdeu o sentido!
Já se sentiu assim? Ouve uma voz dentro de você lhe dizendo constantemente que é hora de "chutar o balde?"

Se estiver assim, pode ser que esteja beirando um processo de crise que também poderá levá-lo à total inversão existencial, ou seja, à possibilidade real de mudar interna e externamente e como se diz por aí, de "virar a mesa!"

Histórias sobre estes feitos é o que não faltam. Muitos infelizmente percebem tarde demais que poderiam ter mudado há tempos. Em momentos cruciais, refletem que poderiam ter agido transformando situações que, ao longo da vida, deixaram de fazer sentido, ou que os feriam. Acostumam-se a serem cruéis consigo mesmos, sem consciência da dimensão do quanto são afetados ou mesmo do grau de sofrimento. Contextos como estes são permeados por atos heróicos sem a menor valia, envolvidos pelo esquecimento total de si mesmo e pela ausência de se amar na medida certa.

Inversão existencial pode ocorrer num momento máximo de crise onde se é acometido pelo desespero de morrer sem nunca ter nascido...É aí que ocorre a oportunidade de mudar radicalmente ou de continuar na "mesmice". Ambas as escolhas são atos de coragem. Sair do lugar conhecido e ousar mudar buscando a felicidade é simples, porém, extremamente difícil de concretizar. A felicidade buscada está na confiança de um vir-a-ser ainda não conhecido, não vivido. Reside na esperança ativa de que o melhor irá acontecer.
"A busca da felicidade e a felicidade em si estão na falência da ilusão de que podemos controlar a realidade nos perpetuando do modo que nos reconhecemos".

Na mudanca, na inversão existencial, novas chuvas e supostas tempestades até poderão vir e serão desconhecidas, assim como os encontros inusitados, vivências e alianças também. A ousadia do desbravamento do novo é o que imperará.

Lembro de um caso em que um homem de meia-idade teve um diagnóstico de uma doença com prognóstico bastante difícil. Quando soube, ousou vender a maioria de seus pertences, contar para seu chefe de trabalho tudo que sempre o incomodou e decidiu falar abertamente aos seus familiares sobre suas mágoas. Decidiu também expressar todo amor e carinho sentidos pelos outros... E assim o fez de modo nunca antes experimentado. Determinou-se a seguir numa viagem pelo mundo por um ano, entendendo que talvez fosse seu último período de vida relativamente saudável, antes que a doença o tomasse. Ficou combinado, se algum problema surgisse, que sua esposa, acordada com a proposta, iria resgatá-lo onde estivesse. Passados oito meses de viagem e sem sintomas, uma dúvida surgiu em sua mente: "será que estou realmente doente?", pensou.

Voltando para sua cidade natal, após quase um ano "sabático", refez seus exames e, para a surpresa de todos, a doença não mostrou evidência alguma, inclusive, a área antes danificada estava recuperada. Os pensamentos que ficaram foram: se os exames da época estariam equivocados, se houve cura espontânea, etc. O porquê do porquê sabemos que não importa. O que valeu foi a abertura dada para que o resgate da vida acontecesse.

Esta história foi por conta de um susto, mas acredito não ser necessário coragem para mudar, apenas quando se é impulsionado de modo tão ameaçador.

A ameaça está no dia-a-dia, no modo como vivemos, na anestesia em relação ao que não nos faz bem. Está no insalubre que nos auto-impomos em determinados momentos de vida. Está no esquecimento do que é lesivo para a alma.

Por incrível que pareça, mesmo em meio a todas essas adequações mal solucionadas que vivemos e que, no final das contas, vamos "empurrando com a barriga", nossos sistemas físicos são bastante fortes. Podemos levar uma vida carregando situações danosas para nós mesmos.

Num dia, porém, "a casa cai", por vezes vai caindo pouco a pouco e de modo silencioso e, quando cai de vez, o mal que aparentemente ocorre é bom, afinal, trata-se um oportunidade única de se fazer inversão existencial.

Apenas penso que não precisamos destes tombos doloridos. O caminho suave é sempre o autoconhecimento, a busca de si mesmo e a ousadia da ação.
Ser feliz é o que importa para a vida valer a pena. Você não acha?




Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapia Breve e de Casais (Sedes), Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Psicóloga Assistente do Iasmpe Instituto de Assistência Médica ao Servidor Publico Estadual. Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado.
Autora do Livro: Projeto Secreto Universos
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